Interessante artigo que
encontrei no site chesstempo e gostaria de compartilhar aqui com vocês por
conter muitas dicas importantes ao estudo da arte.Segue:
1.Estudar
aberturas de maneira errada
Estudar aberturas demanda um tempo considerável.
Agora imagine desprender grande parte do seu tempo e de suas energias em algo
completamente inútil! Desesperador, não é?Mas é claro que eu estou dizendo que
estudar aberturas é perda de tempo apenas se você for um principiante. Caso
você já domine bem a tática, a estratégia e os finais é altamente recomendável
que você dedique bastante tempo no estudo dessa fase do jogo. Mas com toda essa
bagagem teórica e prática você vai memorizar os lances de abertura entendendo
claramente a função de cada um deles, e isso é o que realmente importa.
2.Fazer
do xadrez uma colcha de retalhos
Como se aprende Matemática? Ou Administração? Ou
Informática?
Qualquer coisa que uma pessoa intentar aprender
deve ser iniciada pelo básico. Aritmética no caso da Matemática, Introdução à
Administração e Informática básica no caso das outras duas matérias. Agora,
vamos responder a uma pergunta simples: se, em qualguer área do conhecimento
humano, é preciso começar pelo básico e ir evoluindo aos poucos, passando para
o estágio seguinte apenas quando dominamos o estágio anterior, por que motivos
isso seria diferente com o xadrez? Começaram a entender a lógica do que estou
dizendo?
Muitos principiantes -- e jogadores médios --
querem evoluir estudando o "Manual Para Jogadores Avançados", ou
"Mi Sistema", "Finais de Ruben Fine" ou ainda "Meus
Geniais Predecessores", ou -- o pior de todos -- "Curso Completo de
Aberturas"!
Acontece que, como são livros avançados, é
provável que a pessoa leia um ou dois capítulos de cada um e apenas isso. Nunca
aconteceu com você? E qual o resultado? O xadrez que você aprende se torna uma
"colcha de retalhos", ou seja, seu cérebro não consegue criar
conexões entre os assuntos para que você possa compreender o xadrez como um
todo. Já notou como isso é prejudicial? É a mesma coisa de não saber nada de
aritmética e tentar estudar funções. Aí você lê o capítulo de função afim, não
resolve nenhum exercício e já parte para estudar cálculo integral. Difícil, né
não?
E qual o resultado de tudo isso? Derrotas e mais
derrotas em torneios. O jogador não evolui e torna-se um eterno capivara.
Lembro que quando comecei a estudar xadrez, estudava muito a estratégia do
meio-jogo, mas não dedicava nenhum minuto do dia a treinar tática. As derrotas,
é claro, não eram raras. Minha desculpa: eu estava ganho, mas não vi a
combinação e perdi uma peça. Isso não soa familiar?
Quero estudar xadrez corretamente: o que fazer?
Se você é como eu que estudou anos de maneira
errada, eu sinto muito. Há apenas uma solução para você: voltar para o básico.
E o básico do xadrez chama-se tática. Os russos já sabem disso há décadas. Não
há como evoluir no xadrez sem estudar com afinco esse tema do jogo. Minhas
dicas para você são:
a) Pense na tática sempre como uma cola, um
preenchimento, algo que vai preencher, aderir e completar. É ela quem vai ser o
elo entre as fases do jogo. Por exemplo: meu plano é conduzir um ataque da
minoria para criar fraquezas na estrutura de peões do meu oponente. Depois, vou
me aproveitar dessas fraquezas para lançar um ataque na ala da dama. Que
elemento do xadrez vai viabilizar esse plano? Exatamente: a tática.
b)Use o software CT-Art 3 ou alguma database da
chessbase como "Intensivo curso de táticas" de George Renko,então
treine 30 exercícios de cada tema que encontrar. Isso mesmo: 30 de mate em um,
30 de mate em 2, e 30 de mate em 3. Depois, mais 30 de peão passado, 30 de
ataque duplo e assim por diante. Quando terminar, você terá uma visão clara de
cada um desses temas táticos. Acertando ou errando, o mais importante é fixar
bem a ideia central de cada exercício. É isso que vai promover uma perfeita e
correta evolução do seu nível de jogo. Faça isso mesmo que seu nível seja
médio. Fazendo 30 posições por dia, este treino deve durar aproximadamente 1
mês.
c) Treine tática todos os dias, mesmo que você
esteja treinando outros temas. Esta dica eu recebi do Rafael Leitão em sua
apostila sobre tática. Lembre-se: pense na tática como uma cola!
d) Quando terminar o treino das 30 posições,
faça o mesmo com 100 posições de cada tema. Se você for realmente ousado,
porque não fazer 300? A prática exaustiva leva à perfeição!
e) Faça exercícios de tática até ficar cansado.
Quando estiver cansado, resolva mais alguns! Acredite: a evolução é
surpreendente e vale o sacrifício. Mas cuidado com o over training, ok?
Descanse bastante entre uma seção e outra de treinamento.
3.Jogar
partidas sem anotar
Continuando nosso passeio pelas 7 grandes
sabotagens no treinamento do xadrez, quero falar um pouco sobre a preguiça.
Este tema será abordado mais adiante com mais detalhes, mas cabe muito bem aqui:
acredito que simplesmente por preguiça as pessoas não anotem suas partidas
amistosas, e só anotem as de torneio porque é obrigatório, sob pena de começar
com menos tempo no relógio.
Anotar é muito chato, você pode estar pensando.
Apesar de esta ser uma afirmação puramente pessoal, eu concordo: realmente é.
Mas perceba que “chato” é sempre aquela coisa que a gente não está acostumado a
fazer!
Outro argumento de quem não anota: como eu vou
anotar jogando ping (xadrez relâmpago)? Eu respondo a este argumento com outra
pergunta: como evoluir no xadrez jogando ping? É isso mesmo! Jogar ping é outra
grande sabotagem com o nosso treinamento (quando não utilizado da maneira
correta, é claro!), mas falarei disso depois.
Anotar partidas é muito importante por vários
motivos: 1) Você terá uma database de todas as partidas que jogar. 2) Você pode
visualizar depois, quando a raiva passar, os motivos da sua derrota. 3) No
futuro, tornando-se mais experiente, você vai perceber qual o seu estilo de
jogo, ou seja, aqueles tipos de partida que você mais gosta de jogar (se no
ataque ou na defesa, por exemplo). 4) Você vai poder se gabar daquelas vitórias
realmente brilhantes, que se ainda não aconteceram certamente acontecerão .
Quero estudar xadrez corretamente: o que fazer?
Em primeiro lugar, é lógico, anote suas
partidas. E pare de jogar ping! Se você é principiante, esse é um péssimo
caminho para sua evolução no xadrez.
Conheço vários jogadores que já ficaram no apuro
do tempo em torneios por serem obrigados a consertar suas planilhas, mas isso
poderia ser evitado com um treino muito simples. Minhas dicas são as seguintes:
a) Consiga um programa de xadrez forte. Eu
recomendo o Fritz 5, que é gratuito e muito bom. Mas pode ser o Chessmaster, o
Chessimo, o Toga, qualquer um que seja forte. Você pode pedir pra jogar contra
um amigo mais experiente, mas normalmente jogadores mais fortes não querem
jogar tantas partidas com alguém de nível menor...
b) Jogue 30 partidas contra o programa escolhido
de 21 min nocaute, anotando os lances num papel. As 20 últimas partidas devem
ser jogadas com as coordenadas do tabuleiro invisíveis. Vá nas opções do
tabuleiro e desmarque a opção “mostrar coordenadas”.
c) É bem provável que você perca todas as
partidas, mas lembre que o objetivo é aprender a anotar intuitivamente, atingir
uma competência inconsciente ao anotar. Ao fim do treinamento, uma surpresa:
anotar uma partida não vai mais atrapalhar seu jogo! Ao contrário, a prática da
notação vai ser uma forte aliada na sua evolução na arte de Caíssa.
4.Treinar
sem uma meta.
Agora que já sabemos que jogar sem anotar é
muito prejudicial à nossa evolução enxadrística, quero falar sobre um assunto
que pouca gente se atém: não possuir uma meta enxadrística bem definida.
Responda algumas perguntas sinceras: Aonde você
quer chegar? Quantos pontos de rating você pretende ter? Qual o máximo que você
espera atingir como enxadrista? Você quer se tornar um mestre do jogo ou quer
apenas ganhar dos seus amigos?
É impressionante como quase ninguém responde a
nenhuma dessas perguntas. As pessoas simplesmente não se planejam! Como
estudante de administração, sei que nada pode ser alcançado sem um bom
planejamento. O planejamento, inclusive, é a base de todo processo
administrativo. Sem ele, é impossível saber se as coisas estão caminhando para
o rumo certo. É lógico que o planejamento não vai definir aonde você vai
chegar, mas será um ponto de partida para que você possa organizar os recursos
necessários para conseguir o que você quer e será um mapa orientador para que
você possa dirigir as ações necessárias para atingir sua meta, sem se descuidar
de controlar todo o processo.
Mas, por que ter uma meta é tão importante?
Se eu te dissesse que vou viajar, qual seria sua
primeira pergunta? Exatamente: pra onde? Percebeu como uma meta é o primeiro
passo para que você consiga o que quer? Como começar uma viagem se não se sabe
para onde ir? É o mesmo que caminhar no escuro!
Quero estudar xadrez corretamente: o que fazer?
a) Crie uma meta clara. Não vale dizer “eu quero
me tornar um jogador forte”, pois isso seria subjetivo demais. A melhor maneira
de criar uma meta clara é utilizar o rating como referencial. Mas pode ser
qualquer coisa bem definida, como por exemplo “quero me tornar Mestre Internacional”
ou “quero ser um Mestre FIDE”.
b) Quando for criar sua meta, lembre de atirar
nas estrelas! O desafio, mesmo que não seja alcançado, vai lhe render
excelentes resultados. Um grande jogador brasileiro – o Gilberto Milos, eu acho
– tinha a meta de estar entre os 10 melhores do planeta. Não conseguiu o feito,
mas se tornou um GM bastante respeitado em todo o mundo.
c) Depois que a sua meta for criada, escreva ela
num papel e assine. De preferência guarde em um local visível. Emoldure-a! Isso
vai servir pra te lembrar onde você quer chegar e te dar a motivação
necessária. Além disso, escrever e assinar vai te dar uma sensação maior de
responsabilidade e compromisso.
d) Sempre valorize suas pequenas conquistas. Não
é porque você tem uma meta grande que vai deixar de dar valor às pequenas
coisas. Quando ganhar de um jogador mais forte que você, guarde a partida como
um troféu! Vibre muito quando atingir os 1600 de rating no modo blitz do
chesstempo. É sério! Comemore as pequenas conquistas e a sua motivação vai
aumentar consideravelmente!
e) Crie metas menores que te levem em direção à
sua grande meta. Por exemplo, se você tem 1500 de rating no seu clube e quer
ser um Mestre Internacional, tenha como meta um rating de 1600. Depois almeje
conseguir um rating FIDE. Quando conseguir 2000 de FIDE, planeje os 2200. E
parta com tudo para conseguir o título de MF. E não esqueça de dar uma festa
quando conseguir sua primeira norma de MI. O segredo está na perseverança!
f) Conte a sua meta para um amigo e mostre a
moldura que você fez! Se ele rir de você, isso significa que sua meta é boa e
que você está no caminho certo .
5. Ser
adepto do treinamento confortável.
Depois de alguns dias sem escrever nada, chegou
a hora de continuar listando as sabotagens que todo mundo comete (ou já
cometeu) com seu próprio treinamento. Eu mesmo já cometi todas!
Bem, se estudar aberturas apenas decorando os
lances, sem compreender como afetam a partida como um todo e antes de conhecer
os aspectos básicos do xadrez, como tática, finais e estratégia é o melhor que
alguém pode fazer para estacionar sua evolução, ser adepto do treinamento
confortável fica certamente em segundo lugar no ranking.
Se você parar pra pensar um pouco, vai constatar
um fato muito óbvio e simples: o conforto é algo muito bom, mas quando estamos
falando das coisas que realmente nos fazem crescer, ele é o grande vilão da
história. De maneira nenhuma estou querendo ser polêmico; vou me explicar
melhor com alguns exemplos cotidianos.
Quando queremos entrar na universidade, deixamos
o conforto de lado para encarar o vestibular. É muito mais confortável ir à
praia nos fins de semana. Economizar uma grana pra comprar um carro também
entra na lista das coisas difíceis de fazer. Quer sair com aquela mulher que realmente
vale a pena? Não tem jeito. Tem que encarar o frio na barriga, o desconforto,
fazer coisas que não estamos acostumados a fazer. Ou seja: se queremos crescer
em qualquer área da vida ou conquistar algo importante temos que sair da nossa
zona de conforto.
Imagine que a sua zona de conforto é tudo aquilo
que você está acostumado a fazer. Sair desta zona é extremamente difícil e
complicado, como acordar uma hora mais cedo todos os dias, por exemplo. Mas o
que acontece quando você insiste e sai dela assim mesmo? As coisas novas,
desafiadoras e desconfortáveis passarão, com o tempo, a ser comuns e
confortáveis. E o que acontece com a sua zona de conforto? Isso mesmo: ela
aumenta! E quanto mais aumenta sua zona de conforto, mais as tarefas que antes
eram dificílimas vão se tornando simples e cotidianas!
O conceito de zona de conforto é muito
importante para qualquer área da vida, principalmente a administração, e me
deparei com o termo pela primeira vez ao ler "Transformando Suor em
Ouro", do Bernardinho. É um ótimo livro também para enxadristas, e vai
muito bem recomendado!
Assim, esse conceito torna-se muito importante
para uma evolução consistente no xadrez. Ser adepto do treinamento confortável
é muito prejudicial porque você acaba fazendo sempre as mesmas coisas, sempre
do mesmo jeito! Não há como esperar um resultado diferente da estagnação. Certa
vez, Albert Einstein disse algo que ilustra muito bem o que estou dizendo:
“Fazendo a mesma coisa dia após dia, não há de se esperar resultados
diferentes”. E ainda: “Loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo
exatamente igual”!
E o que é confortável no xadrez que deve ser
evitado?
a) Jogar ping sem objetivo. Jogar partidas
relâmpago só é um treinamento eficaz quando é usado como treino de concentração,
e só se consegue isso jogando contra aquele cara que é mais forte que você.
Ficar horas na internet jogando ping apenas pra passar o tempo no seu site
favorito não vai fazer seu xadrez melhorar, não mesmo!
b) Jogar contra oponentes mais fracos ou do mesmo
nível. Isso mesmo: se quer realmente evoluir, tem que jogar contra gente mais
forte que você! Isso vai lhe render muitas derrotas, mas o aprendizado será
valioso. Como disse Capablanca: “Tive muitas vitórias, mas em nenhuma delas
aprendi tanto quanto na maioria de minhas derrotas”. Pense nisso.
c) Estudar suas vitórias. É muito bom passar
algum tempo analisando sua vitória com um amigo, mas o que vai fazer você
aprender de verdade é a análise minuciosa de suas derrotas. Ame-as!
Esquadrinhe-as! Procure entender todos os detalhes; repasse-a várias vezes até
entender o que realmente aconteceu. Você vai se surpreender quando descobrir
que a maioria delas tem um padrão comum, ou seja, você perde a maioria de suas
partidas por causa de uma única deficiência comum. Concentre-se em sanar essa
deficiência e melhore seu jogo!
Bem, essas três coisas são as mais comuns que as
pessoas fazem para se manterem em suas zonas de conforto. Mas zona de conforto,
creio que você já percebeu, é um conceito bem individual. Portanto, observe
criteriosamente suas atividades diárias e procure sair da sua. Como já foi dito
aqui no fórum, o autoconhecimento é uma das bases para o sucesso.
Termino com uma frase do Dadai Lama, para
meditação. Creio que combina com o tema.
"Desenvolver força, coragem e paz interior
demanda tempo. Não espere resultados rápidos e imediatos, sob o pretexto de que
decidiu mudar. Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne
efetiva dentro de seu coração."
TEXTO ORIGINAL POR:MAYKEKKTING